Páginas

30 de nov. de 2009

Resenha: Black Flag, de Valerio Evangelisti


Utilizando uma narrativa violenta e doentia, o italiano Valerio Evangelisti, autor da trilogia "Magus" e de "O Inquisidor" e "Correntes da Inquisição", constrói, a partir de três histórias alternadas, um livro inovador e marcante. O primeiro capítulo é o início de uma história, em um tempo mais próximo do presente, onde uma tragédia no Panamá, condicionada pelo ataque de estadunidenses, acontece. Há a presença de um grupo de prisioneiros americanos portadores da "porfiria", doença responsável por algumas lendas sobre lobisomens. Tal doença, na verdade, é um dos focos principais do livro. Esta história só tem continuidade no último capítulo.

Passada na Guerra da Secessão, a história principal, de capítulos maiores, conta a trajetória de Pantera, um pistoleiro mexicano, que também é um "palero", uma espécie de xamã. O feiticeiro é capturado por um bando de mercenários liderado por Jesse James, lendário cowboy de gatilho rápido. Acaba sendo tratado não como prisioneiro, mas como um membro do bando. Em meio ao caos de assaltos a fazendas e do escalpelamento de inimigos, Pantera conhece Koger, um sujeito possuidor de uma doença que o faz parecer um lobisomem, Molly, uma prostituta irlandesa que se apaixona por ele, Lobo Branco, um índio velho portador de um cachimbo capaz de proporcionar experiências psicodélicas, Bellegarrigue, um médico francês anarquista que pretende usar o bando para conseguir seu objetivo, e vários outros personagens insanos e absurdos.

A história que se mescla com a de Pantera se passa em um futuro distante, onde a terra, sobretudo "Paradice", a cidade em que vive Lilith, a protagonista, é habitada somente por loucos. A esta altura, a tortura e o sofrimento são encarados como formas de afeto, a morte é vista com indiferença e o estupro é corriqueiro. Todos são assim, sem exceção.

Considerado por alguns a obra lançada no Brasil mais próxima do New Weird, Black Flag quebra o conceito que costumamos ter sobre fantasia e ficção científica, reinventando e fundindo vários estilos de forma bastante efetiva.