Primeiramente devo dizer que este livro quebrou um preconceito meu. Não quanto a livros nacionais, claro. Afinal de contas, também escrevo, quero dizer, também quero ser escritor. O preconceito ao qual me refiro é o que tinha sobre histórias baseadas na mitologia cristã.
Confesso que quando meu primo me emprestou o livro, já senti certa desconfiança por causa do título, que se refere a um acontecimento originalmente bíblico. Temi que o romance fosse uma ladainha chata, cheia de lições de moral chatas e de proselitismo chato. O que encontrei, no entanto, foi uma história que poderia ser taxada de “herética” por muitos fanáticos.
Em “A Batalha do Apocalipse”, Eduardo Spohr conta sobre Ablon, um anjo renegado. Isto quer dizer que foi expulso do céu por se rebelar contra o Arcanjo Miguel, que é o cruel ditador do paraíso. O fato ocorreu por causa de uma traição de Lúcifer, o irmão de Miguel, que também teve sua queda, depois de certo tempo. Junto a ele, todos os seus seguidores também caíram.
Desta forma, Ablon é obrigado a viver na Terra, sem chances de voltar para o mundo espiritual. Assim, conhece Shamira, a feiticeira de En-Dor. Isto acontece em Babel, quando Ablon tenta salvar Ishtar, a última renegada, além dele.
Depois de Babel ir abaixo, os dois tem seus destinos unidos. Separando-se e se encontrando ao longo de todo o livro, através de histórias alternadas, ambos passam por situações definitivas para a história, esperando o Juízo Final e trabalhando contra a vontade do Arcanjo Miguel, que tem como objetivo a destruição de todos os humanos. Shamira, agora, é a feiticeira mais poderosa do mundo, sendo imortal, inclusive.
Além disso, o livro tem situações passadas no Inferno – com ou sem a presença de Ablon –, no Paraíso e em vários lugares da Terra. Ablon e Shamira presenciam cada momento importante da nossa história, conhecendo personagens interessantes e consideravelmente importantes para a trama. A história principal se desenrola em presente assolado por guerras e pela mesquinharia humana.
O mais impressionante é que o autor, em seu romance de estréia, escreve mais de 500 páginas sem deixar o livro monótono, conseguindo não se desviar da linha principal em uma história tão grande, o que é um feito um tanto raro.
A narrativa é bem profissional – e me lembra um pouco a do Bernard Cornwell, em certos momentos – e a revisão foi bem feita, ou seja, equívocos gramaticais são bastante escassos. Há alguns poucos erros de continuidade, o que é quase inevitável em uma história tão grande. Como crítica, digo que certos – poucos – momentos são um tanto piegas – em alguns diálogos, por exemplo, quando Ablon fala de seu objetivo de forma um pouco “emocionante demais” –. Não gostei muito, também, do fato de os anjos dizerem o nome do encanto para executá-los. Fez me lembrar de “Cavaleiros do Zodíaco”. Não é nada demais, até porque é realmente pessoal, mas não me agradou.
Enfim, a forma como Spohr passa pela história, com seus personagens quase imortais – tratando-se de idade – é bem agradável. Dá vontade viver para sempre, presenciando muita coisa que não poderemos presenciar. Talvez tenha sido o que mais me fez gostar de seu livro.